
Lendo a matéria abaixo, me deu uma certa saudade de quando eu via meus pais saindo cedinho para ir ao mercado central comprar nossos alimentos; saudáveis, fresquinhos, sem agrotóxicos e na medida exata, sem embalagens que hoje em dia tanto poluem nossa Terra. Eram baldes de alumínio que traziam as compras. Depois de guardadas as compras, os baldes eram lavados e estavam prontos para a próxima ida ao mercado dali 3 dias mais ou menos..., um frescor! Aí que saudades daquela vidinha pacata!
"A necessidade de se repensar o descarte de embalagens industrializadas provoca um retorno ao consumo de produtos fracionados
Há 40 anos, era comum as pessoas irem às mercearias para comprar quase todos os tipos de alimentos a granel. Quinhentos gramas de arroz, 300 gramas de feijão, um pouquinho de açúcar. Muita coisa mudou desde então. Os alimentos industrializados ganharam embalagens elaboradas, que agora são vistas como inimigas do meio ambiente. Por isso mesmo, o consumo a granel volta a ser uma alternativa para quem se preocupa em consumir de forma sustentável. Isso já seria motivo suficiente para você procurar consumir itens com menos invólucros. O outro motivo é que, comprando-se a granel, o desperdício tende a diminuir.
A sociedade brasileira ainda está muito presa ao visual como padrão de referência. O que quero dizer é que, independentemente de o produto ser bom ou não, o que importa é o visual. Note que todos sabem que refrigerante não faz bem à saúde. Mas as pessoas compram. Os jovens compram pelo apelo visual. Recentemente, entre 2009/2010, a indústria de refrigerante entrou em pé de guerra e deu uma repaginada nas suas embalagens. Melhorou o refrigerante? Agora ele é mais saudável? Claro que não. Mas a embalagem mudou e é o que interessa. Infelizmente.
Quanto o segmento de plástico representa na indústria de embalagens?
A indústria brasileira está refém do plástico como embalagem. Embora tenhamos alguns avanços como caixas de papelão ondulado (um pouco mais caro ainda, mas a tendência é este custo ser barateado com o avanço tecnológico), a indústria do plástico representa em alguns segmentos cerca de 40% das embalagens.
Em termos ambientais, o que a produção de tantas embalagens significa?
Muito lixo industrial. É necessário investirmos em programas de capacitação técnica para as empresas e mostrar que é possível ganharmos em escala com a reciclagem. Muitos se esquecem que o produto reciclado é mais barato e, portanto, quando este entra no processo de produção na forma de matéria-prima, reduz o custo final do produto acabado. Recentemente em aula com meus alunos de custos industriais explicava-lhes sobre os co-produtos, os subprodutos e as sucatas. Com a evolução da sociedade humana aprendemos coisas maravilhosas como o caso de certos produtos que, no final de um processo, podem se assemelhar a uma sucata e não ter valor agregado, mas hoje em dia passam a ter um valor agregado extremamente elevado. Veja por exemplo o caso da indústria moveleira, cujos sarrafos e pedaços de madeira rejeitada podem ser transformados em produtos de elevado valor agregado.
A venda a granel de alimentos, produtos de limpeza e cosméticos é uma solução para contribuir com a sustentabilidade?
Sem dúvida. Mas é importante perceber que tudo passa por um processo cultural e histórico. Nos EUA, no Estado da Califórnia, as pessoas vão ao supermercado, compram a granel e levam consigo suas embalagens. Cada vez que o cidadão faz isso ele evita o uso de embalagens novas e ganha cinco centavos de dólar de crédito para cada embalagem não usada. No final, todos ganham com isso. Neste sistema alguns itens entram nesta relação: hortifrutigranjeiro, produtos de limpeza, cosméticos etc.
O que o aumento do consumo a granel poderia representar para a indústria brasileira ?
Se falarmos no segmento de grãos em natura, oriundos da agroindústria, é possível reduzirmos a relação embalagem-produto. Por outro lado, se pretendemos vender xampu a granel ou creme dental, precisamos rever nossa logística, pois o transporte deste tipo de carga (de forma fracionada) seria mais complexo. Em termos econômicos isso não significa que a cadeia de produção da embalagem vai se extinguir. O que vai acontecer é a redução desta cadeia para determinados segmentos da indústria.
Osvaldo Vieira, 84 anos, proprietário da Banca do Osvaldo, há 51 anos instalada no Mercado Municipal de Curitiba, diz que o consumidor de produtos a granel busca qualidade e variedade. “Ele quer ver o conteúdo do que está comprando.” A professora universitária Ida Gubert, 57 anos, que há 20 anos compra no Mercado, concorda: “Eu compro pouquíssima quantidade de alimento. Dificilmente cozinho em casa. Quando eu compro arroz, por exemplo, compro cerca de 150 g. Sem falar que a qualidade não tem erro”.
Por questões sociais distintas, países como Paraguai e Itália já adotaram novas formas de consumo dentro das grandes redes de supermercados. No país vizinho, a crise econômica popularizou a venda a granel na tentativa de tornar os preços mais viáveis, permitir que o consumidor compre apenas o que irá consumir e gerar mais emprego (pois é necessário que se coloque funcionários operando as balanças).
Já na Itália, outros foram os motivos: as exigências de públicos específicos (famílias muito grandes e solteiros) e a consciência da necessidade de reduzir o número de embalagens plásticas. Nestes países, produtos como cereais, macarrão e até produtos de limpeza são comercializados sem nenhuma embalagem e na quantidade desejada pelo consumidor.
A inglesa Lush é conhecida por produzir cosméticos de forma consciente: não testa produtos em animais e evita o uso de embalagens – sabonetes são pesados e vendidos aos pedaços, por exemplo. A marca não está presente no Brasil, mas por aqui há lojas com sistema semelhante de vendas como a Empório Body Store.
Já na Chá e Arte, a maioria das embalagens é de papelão ou papel (similares ao saco de pão), com dicas de preservação ambiental. Além disso, é possível encontrar xampu sólido, vendido por unidade e sem necessidade de embalagens plásticas. Uma barra de xampu tem 60 g e corresponde a 50 lavagens (aproximadamente três meses, lavando o cabelo em dias alternados). Por ano, uma pessoa que lave o cabelo em dias alternados gasta 1,8 litros de xampu líquido. Considerando uma embalagem de xampu convencional, com 350 ml, uma pessoa descarta no lixo, aproximadamente, cinco embalagens plásticas de xampu por ano." (Fonte:Michele Bravos, especial para a Gazeta do Povo)
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