"Nem sei quando foram essas ferias, em que ano elas aconteceram, mas sei que elas foram inesquecíveis!"
(Tibau-RN)
Capítulo I - A Chegada
Já havia tentando mil vezes! Mas a bagagem era muita, simplesmente não cabia! Meu pai, pacientemente, tentava "encaixar" as malas das minhas 4 bonecas no porta-malas do carro, além da bagagem da boneca Jackeline da minha prima, que iria viajar conosco (éramos inseparáveis!). Minha mãe, da calçada, olhava entediada a movimentação; era tanta gente, tanta coisa pra "enfiar" naquele porta-malas que era impossível caber!- Filha, veja bem, o carro está muito cheio e com coisas prioritárias. Serão muitos dias, precisamos levar muitas coisas; amanhã, quando eu voltar do trabalho, eu levo Amiguinha, Andinha, Beijoca e Prosinha, levo até a Jackeline. Olhei para os lados, não conseguia aceitar a proposta; meu pai sempre negociava comigo, sempre chegávamos a uma solução amigável. Corri para dentro de casa e, no meu quarto, arrumei as bonecas em um canto para que esperassem a hora que iriam "viajar" para a praia.As malas estavam cheias! Até escovas de dentes eu havia conseguido com meu irmão e primos (aquelas que estavam sendo descartadas); a buzina estridente da velha Rural, que mais parecia uma lata de sardinha de tão cheia que estava, me trouxe de volta a realidade. Corri e me sentei no colo de alguém, não lembro de quem (as crianças - ao todo cinco, iam no colo de algum adulto), o motor coçou a garganta e, partimos, rumo ao litoral, cheios de expectativas! As melhores férias da minha vida!
No entardecer, chegamos! O céu parecia fogo, o mar estava dourado, com nuances avermelhadas, contrastando com as folhas dos coqueiros que balançavam lindamente diante dos nossos olhos espantados. Chegamos a casa que meu pai havia alugado; era uma velha e grande casa, as paredes brancas e grossas cercavam o local como se fora um castelo. Minha prima, cutucou o meu braço - Parece casa mal-assombrada! Aposto que aqui vivem muuuuuuitos fantasmas... e morcegos! Sem dar muita atenção para o que ela dizia, olhei para os lados da casa onde se podia enxergar áreas alpendradas amparadas por pilares grossos de troncos de Carnaúbas; não havia luz, havia penumbra que só deixava a visão das sombras das palhas, um pouco assustadora realmente.
Com tanta criança na casa, minha mãe e minha tia, foram de imediato distribuindo os quartos, as camas e os locais das redes, diante de muitos protestos; - Mãe! Eu quero dormir com você e papai! Eu não vou dormir sem vocês! - esse era meu irmão, um fugão, como dizia meu pai(quer dizer, alguém que tem medo de qualquer coisa), ninguém ligou muito para as manhas dele e logo todo mundo foi acomodado nos seus respectivos lugares. _ Aproveitem para trocar a roupa e lavar as mãos para o jantar, disse minha tia - aqui a noite chega cedo, quando tudo escurece, é hora de se recolher. Ela era dura, mas era legal, sempre fazia coisas gostosas;eu adorava a comida preparada por ela, tão bem temperada e diversificada que nas férias me fazia ganhar uns kilinhos, o que era muito bom, já que eu era uma "varinha" de tão magra. O quarto que nos haviam escolhido era grande e branco, dava pra ver as telhas escuras e pesadas, as paredes eram grossas e construídas em taipa; apesar de tão grande, o quarto não tinha muitas janelas, só duas pequenas se abriam para os alpendres(uma para cada deles) e ,talvez fosse essa a razão para a escuridão que reinava ali dentro, mas dava pra ver muito bem os morcegos em vôos rasantes, quase raspando as nossas cabeças!Depois de varrido e espanado, o quarto ficou outro! Minha tia acendeu uma vela e colocou em um castiçal acinzentado, trocou os lençóis das duas camas; armou três redes que ficaram entre as duas camas - Já para a mesa todo mundo! Criança vai comer mais cedo, pra dormir mais cedo! Aqui não tem remancho não! Amanhã o dia vai ser todo de vocês, é bom guardar as energias. ! O jantar foi rápido, na imensa mesa no centro da sala, todos nós nos deliciamos sobre a sopa que a minha tia havia preparado; fumegante e picante, do jeito que eu gostava! Havia silencio naquela sala, todos comeram e cada um foi saindo e se encaminhando para o quartos. Deitada em minha cama, mal conseguia fechar os olhos, era uma agitação dentro da minha cabeça; 30 dias de divertimentos, comida boa e o mar ali, bem pertinho de mim...! Era demais!Parei um pouco na cama, escutando o barulho do mar que deitava suas ondas a poucos metros da casa, o vento uivando por cima do telhado e espalhando uma fina camada de areia sobre meu rosto. Olhei para cima e pude ver, através das frestas das telhas, uma estrela brilhando, piscando e aí, meus olhos começaram então a ficar pesados, fechando e abrindo vagarosamente... -Uiiiiiiii!!! - Pulei da cama com aquele grito! Era Deza, uma empregada que tinha ido para ajudar nos trabalhos domésticos (não eram poucos) e que era mesmo muito escandalosa. - Deza! Deixa de besteira! Morcego não vai querer seu sangue não...! Escutei a voz do meu pai, rindo daquela bobagem... Ah! Que noite memorável (pensei...), não tive mais tempo para qualquer pensamento, nem para minhas bonecas, o sono chegou e rapidamente, antes das 9h, todos dormiam naquela velha e querida casa. Que dia feliz foi aquele da nossa chegada... . Ainda sinto saudades.