“Mãe, você é a mulher maravilha?”
Essa pergunta me chegou aos ouvidos, quando ainda muito jovem havia duas crianças para cuidar e amar, por minha própria conta. Havíamos chegado de umas compras e, na época, a Mulher Maravilha já tinha virado “enlatado” - séries antigas que preenchiam horários sem muita audiência – a pergunta foi inocentemente feita pela minha caçula, enquanto guardávamos as compras. Não sei o que aquela pequena entendeu por “Mulher Maravilha”, ela não poderia, naquela tão tenra idade, dimensionar todo o trabalho que eu, abraçava diariamente, para proporcionar as duas um perfeito e saudável crescimento e por essa razão, me chamar de Maravilha; tampouco poderia ser pela minha aparência – exausta e sem o menor tempo para beleza física e cosmética, não era um modelo de beleza que pudesse ser chamado de Mulher Maravilha; não seria também pelo tempo desprendido para cuidar da casa e do papai – além da sopinha, da papinha e do “gagau”, o menu não era dos mais sofisticados, como também não era nada sofisticada a arrumação da casa; pilhas de fraldas, 9 mamadeiras pré-preparadas para ir ao freezer e mais 9 para lavagem e esterilização, banheiras com água limpa e fervida para os seus muitos banhos diários, que justificariam ser chamada de Mulher Maravilha. Acho que naquela hora ela quis me chamar de Mãe , maravilha ou não, mas a quem ela enxergou com os olhos da alma, que só quando crianças podemos ter; cansada, descabelada, roupa malpassada, unhas por fazer e rosto lavado (só com sabonete – nenhum creminho!). Ela viu a minha alma, tomada de amor pelas duas, dando-lhes um colo afetuoso, carinhoso, doado incondicionalmente, mas tão feliz e plena numa vida que não poderia ser mais completa. Hoje, ao longo dos anos (tantos passados), aquela Mulher Maravilha ainda vive em mim, não mais visualizada ou lembrada, mas oculta entre o tempo que cresceram e perderam a inocência para ver o que de fato é real e precioso.
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